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O Coraixita


Mohamed era Coraixita, nascido numa tribo de pastores e mercadores que habitavam a península arábica.
Era um homem iletrado e os conhecimentos do Corão foram-lhe transmitidos pelo Arcanjo Gabriel, que lhos segredou ao ouvido e que ele depois transmitiu ao mundo.
Em menos de cem anos construiu-se um império que se estendeu do oriente distante até ao extremo ocidental da Europa.
A península ibérica foi conquistada e convertida em três anos apenas, o norte de África em quinze. Terá sido isto possível?
É o que reza a história. Mas que imensos exércitos teriam sido necessários? Que homens de vasto saber e persuasão os teriam de acompanhar, para que a conversão fosse simultânea à conquista?
Como foi possível tomar a Síria e Alexandria, que era à época a segunda metrópole cristã; dominar o Magreb e a península ibérica, centros de saber, de conhecimento, berço de homens como Agostinho de Hipona (S. Agostinho) e Isidoro de Sevilha ou Prisciliano, se já não corresse o mundo uma ideia força, uma forma diferente de encarar a vida, a relação com o absoluto, se não existisse enraizado na mente das gentes um novo paradigma.
Desde o concílio de Niceia, em que foi imposta a ideia de um Deus trinitário (Pai, Filho e Espírito Santo) que o mediterrâneo se cindiu, de um lado aqueles que atribuíam a Cristo a essência divina (unigénito) do outro todos os que o entendiam como um homem, um mensageiro, um profeta.
O Islão é o absoluto sincretismo da ideia de Deus, por isso as pessoas a ele aderiram. Paulatinamente, durante séculos, foram assimilando esse pathos (com Arrias por ex) e chegado o momento aderiram sem reservas, eis então o incêndio das novas ideias a percorrer o mundo.
A história não se repete, mas as circunstâncias sim… não foram os Coraixitas, limitados em homens e meios que criaram a revolução, eles foram apenas o veículo de algo muito mais profundo e foram-no porque eram insuspeitos de levar a cabo a tarefa. Foram-no porque eram o elo mais fraco, não inspiravam receio, eram a porta semi-aberta que dá para o pátio da história.
Hoje por hoje, mais uma vez é isso que se passa, não começa na margem norte do lago, começa precisamente onde a ruptura seria possível no elo negligenciado do Grande Lago naquele que mais facilmente pode ceder.
Mas que alastrará… tenho a certeza que sim.
Acerca disto com uma abordagem distinta mas assertiva ler   aqui e aqui.

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