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Para acabar de vez com a cultura... a coltura



Muito se tem comentado por estes dias a entrevista concedida pela vereadora da cultura, a um semanário desta cidade.
Espantam-se as gentes com a ausência de perspectivas, com a falta de iniciativa, com a inexistência de estratégia, com a costumeira desculpa da falta de verbas, como se tudo neste mundo fosse determinado pela existência ou não das moeditas no fundo do saco.
Serão justas as críticas, mas talvez não correspondam inteiramente à verdade, ninguém pode ser tão acessório, tão redutor, que escolha como bandeira do seu mandato a total inoperância e que a justifique com a falta de dinheiro; a ser assim a política cultural deste país estaria entregue ao Ministério das Finanças e quiçá os Técnicos Oficiais de Contas tivessem no seu currículo cadeiras como História da Arte, ou Semiótica ou qualquer outra que os integrasse nos meandros da hermenêutica.
Por isso resolvi investigar o trabalho até agora desenvolvido pelo pelouro. Eis então o resultado da minha busca:
Açorda de Coentros
Coentros;
Alho;
Azeite;
Ovos;
Bacalhau alto;
Pimento verde;
Sal.
Numa panela coza o bacalhau, depois de demolhado, com água bastante para a açorda. Depois de retirar o bacalhau cozido, escalfe um ovo por pessoa. Num almofariz pise os coentros e os alhos juntamente com o sal grosso. Numa tigela grande deite o azeite, duas colheres de sopa por pessoa e um ovo inteiro, acrescente o polme do almofariz e misture tudo muito bem. Corte o pimento em lâminas e deite no preparado. Deite sobre este, mexendo sempre, a água do cozimento do bacalhau, a ferver. Com a sopa do ganhão prove e se for caso disso corrija o sal. Deite no caldo as restantes sopas cortadas aos cubos. Deixe embeber bem as sopas e sirva em prato fundo onde já está o bacalhau e o ovo escalfado.
Pode esta sopa ser mais singela sem ovo no caldo, sem pimento e sem bacalhau.
Neste ponto interrogar-se-ão, mas o que tem uma açorda de coentros a ver com o executivo camarário?
Tem tudo a ver.
É uma açorda e em relação à política cultural desta câmara leva vantagem apenas pela sua subtileza, que é sem tirar nem pôr o que a distingue de uma mixórdia.
E se por cá o poder insiste em transformar a política cultural numa salsada sem nexo, ainda há quem aproveite as ervas para dar aroma à cultura.
O sabor, esse é a gosto de quem consome e olhem que sopas de pão existem desde o tempo dos romanos e ainda alimentam. Ao contrário da excelência que nos atormenta há meia dúzia de anos e dá náuseas de tanta escassez.
p.s. receita retirada do blogue alentejanando, com a devida vénia a Isidoro de Machede 

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