Dei comigo a pensar qual o tema a abordar na crónica desta semana?
A aprovação do orçamento para 2011?
A greve geral do próximo dia 24?
As obras da Embraer?
A visita do Presidente da República Popular da China?
Ou questões mais prosaicas como a derrota do Benfica no Dragão?
Talvez a cobertura noticiosa da visita do Papa a Santiago e a Barcelona?
Mas, por mais que me esforçasse, nenhum destes assuntos me despertou a veia crítica, a vontade de uma abordagem digna desse nome.
Estou deprimido, pensei com os meus botões, não é a falta de material que me limita; é a falta de vontade.
Mas serei só eu? Ou será maleita generalizada?
Depois lembrei-me de uma crónica que o falecido Luis de Stau Monteiro escreveu há uns anos atrás, defendendo que o melhor barómetro da economia são os sacos que as pessoas carregam à porta dos supermercados. A quantidade de géneros que eles contêm.
Foi então que se fez luz. Não sou eu que ando deprimido, somos todos nós, se não todos, a maioria.
A quebra do poder de compra, a perda de regalias sociais, a sensação de impunidade dos responsáveis… tudo isto nos consome e, quando olhamos em volta dificilmente encontramos uma âncora firme, segura, a que nos possamos agarrar.
Do Presidente aos partidos do poder, da saúde à justiça, da educação à segurança social, a imagem que recolhemos é a de um tremor de terra, tudo se desmorona à nossa volta, todas as referências se perdem, e nós somos confrontados com a impotência da nossa pequenez face a tamanha calamidade.
É este sentir colectivo de impotência, que se respira neste momento, que perpassa na rua, nos empregos, por toda a parte.
Chega a ser assustador este silêncio, como se fosse o vazio que anuncia a tempestade.
Todos sentimos que uma faísca, uma simples fagulha, desencadeará um incêndio violento, incontrolável e temos receio das consequências, mas por estranho paradoxo todos o desejamos. Ninguém suportará por muito mais tempo este prenúncio de tempestade.
Quando pensamos nos bancos a quem emprestamos o nosso dinheiro a juros de 1% e que depois nos emprestam esse mesmo dinheiro a juros de 6% e mais.
Quando vemos aqueles que nos impõem a austeridade ganharem ordenados milionários.
Quando assistimos ao desfile de fraudes perpetradas por aqueles que elegemos para governar a coisa pública.
Quando à frente dos nossos olhos desfilam as maiores injustiças, os maiores roubos, as mais esfarrapadas mentiras… sentimo-nos deprimidos.
Mas depois ao percebermos que nada temos a perder, a revolta é certa, e aí, é o inferno na terra. Sempre foi assim, desta vez não será diferente.
Talvez seja a única maneira de arrumarmos a casa, de nos livrarmos desta depressão.
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