O Presidente anunciou com pompa e circunstancia a sua recandidatura no Centro Cultural de Belém. Obra emblemática do seu consulado enquanto primeiro-ministro, lado a lado com os Jerónimos e a Torre de Belém, exactamente a mesma obra em que se enterraram milhões provenientes dos apoios comunitários, e que agora alberga além das salas de espectáculos uma colecção privada de arte, pertença do Comendador Berardo.
Disse o candidato presidente, que se não fosse ele, a sua intervenção, a sua capacidade de moderação - na altura ainda não tinha inventado a magistratura activa, o que quer que isso seja - o país estaria em muito pior situação do que aquela em que se encontra.
Vinte e cinco minutos de inconsequentes auto elogios do homem que enquanto representante do Estado, apenas por três vezes se dirigiu aos portugueses: por causa do estatuto dos Açores, por causa das pretensas escutas que o seu próprio staff inventou e, para manifestar o seu desacordo com uma lei que acabara de promulgar.
Quanto ao futuro num pináculo de originalidade avançou com um “eu acredito” e mais um “acredito que podemos vencer,” sem contudo especificar quem poderá eventualmente vencer, se a banca, que lhe sustenta a campanha, se a sua candidatura, ou se ambas.
Mostrou-se preocupado - ele que aparece em tudo quanto é espaço noticioso a fazer a sua campanha encapotada - com as despesas e para dar o exemplo, não vai permitir outdoors reduzindo assim os custos em cinquenta por cento, não esclareceu se também vai limitar-se a aparecer nos órgãos de comunicação social tanto como os outros candidatos, ou se a redução se refere apenas aos custos por si suportados e não pelo erário público.
Entretanto como a coisa lhe terá saído um bocado pífia e sem os seus amigos de sempre, Oliveira Costa, Arlindo de Carvalho e Dias Loureiro entre outros, impossibilitados de dar o seu contributo, resolveu encenar a tal magistratura activa, convocar o Conselho de Estado e influenciar os partidos do eixo do poder entretanto desavindos a chegarem a acordo para que fosse aprovado um orçamento que todos à excepção dos envolvidos, sabiam estar aprovado à partida, inventaram-se umas quezílias, deram uns retoques e eis que Cavaco à saída do Conselho de Estado, numa atitude inédita, bota faladura incita ao entendimento e zás faz-se luz no espírito dos negociadores, horas depois eles resolvem o diferendo e anunciam o acordo.
É claro que isto não vai aparecer em nenhum outdoor, mas lá que é campanha, ninguém duvida.
Resta agora saber quanto custou aos portugueses esta rábula de mau gosto e se não nos sairia mais barato pagar os outdoors ao homem.
São estas pessoas que detêm nas mãos o poder, não se vislumbrando até onde isto possa continuar.
É que o pior cego é aquele que não quer ver.
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