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Portugal dos pequenitos


Uma democracia sem transparência é um Portugal dos pequenitos, uma mostra em dimensão reduzida de uma sociedade em que a cidadania é regra e o compadrio excepção.
Uma democracia sem transparência é um número malabar, uma artimanha autocrática, em que tudo gira em torno não se sabe do quê.
Em democracia o voto é apenas um momento, uma afirmação de vontade, um mandato; quem o recebe é responsável perante todos, em cada situação, por cumprir as suas promessas, tem a obrigação de manter visíveis os actos do seu consulado, tem o dever de ouvir os que o elegeram, de aceitar os limites do seu mandato.
Não se lhe pode exigir a submissão sem termos à “vox populi”, mas é por isso que a transparência é inquestionável, para que todos saibam como e porquê certas decisões são tomadas em detrimento de outras, para que se possa responsabilizar ou não quem as assume.
É fácil para quem dispõe de meios, candidatar-se a um cargo público. Cria uma equipa, engendra uma estratégia apelativa, debita as promessas que todos anseiam ouvir. Os escrúpulos são postos de lado, a avaliação da tarefa é relegada para as calendas.
Contratam-se técnicos de marketing, distribuem-se abraços e beijos por atacado, acompanhados de camisetas e brindes de plástico, monta-se a feira, transformam-se as gentes em boletins de voto.
Depois, chegado o poder, tudo se transforma, os abraços e os beijos são guardados no armário, os técnicos de marketing regressam a casa, as promessas esquecem-se, desmonta-se a tenda e as gentes transformam-se por artes mágicas em contribuintes, que pagam a equipa, os assessores da equipa e os erros da equipa.
A feira transforma-se em recinto fechado e dela nada transpira, quando os contribuintes batem à porta a pedir contas das promessas feitas, inventam-se desculpas, acicatam-se os cães, fazem-se ameaças.
Uma vez por outra organizam-se umas festas, tocam-se os bombos, sai a charanga, isto tudo enquanto por trás a equipa trabalha para sustentar os compadres e as comadres.
É assim o Portugal dos pequenitos, um mostruário, uma ficção.
Apesar de tudo ainda me convenço que um dia as coisas irão mudar.
Acredito que as pessoas vejam claramente vista a porcaria que se esconde por baixo dos fatos Armani e tomem nas mãos o seu destino.
Para deixarmos de vez as frases acabadas em inho.


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