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A greve e a não greve


Percorro de forma regular a blogosfera, gosto de comparar opiniões, de saber o que os outros pensam, tenho prazer em constatar a forma como o fazem.
Nos últimos tempos, o tema mais abordado tem sido a Greve Geral do próximo dia 24. Fala-se da sua oportunidade, do que ela pode representar enquanto manifestação do repúdio, que percorre o país, pelas políticas de combate à crise adoptadas pelo governo do Partido Socialista com o apoio do PSD e do Presidente da República.
No entanto emergindo do tom geral de apoio à greve, surgem por vezes opiniões contrárias, defendendo que é necessário trabalhar, silenciosamente como as formigas, comendo e calando, porque greves, manifestações, tomadas de posição, seriam nocivas aos interesses dos Portugueses, dariam de nós uma imagem negativa aos mercados, que é imperioso vender uma imagem de unidade, mesmo que ela seja falsa, mesmo que aproveite apenas a alguns.
Ainda não foi há muito tempo que os senhores se passeavam de charrete pelos largos das povoações indicando de dedo apontado os homens e as mulheres, alinhados como gado, que nesse dia ou nessa semana teriam o privilégio de trabalhar, de ganhar o seu sustento.
Hoje em dia, os senhores ficam nos seus gabinetes escolhendo de entre os mais de setecentos mil desempregados, aqueles que irão substituir os precários em fim de contrato.
Onde reside a diferença? Na forma ou no conteúdo?
Ainda não foi há muito tempo, que só aqueles que tinham posses podiam mandar os seus filhos estudar, pagando estadias, livros, propinas, sustentando através das suas posses uma posição de privilégio.
Hoje em dia por um mestrado paga-se na melhor das hipóteses cerca de 3500€, paga-se quarto, alimentação… Quem pode suportar esses custos na educação dos seus filhos? Os desempregados? Os precários? Aqueles que vivem do salário mínimo?
Ainda não foi há muito tempo, que os doentes ficavam largados à sua sorte, os Hospitais na sua maioria estavam entregues às Misericórdias, às irmãs da caridade. Milhares de crianças morriam das mais variadas doenças, os que padeciam de maleitas crónicas tinham de as suportar sem qualquer apoio, embora existissem médicos qualificados, hospitais equipados, só tinha acesso a eles, quem tinha dinheiro para pagar os seus serviços.
Hoje em dia existe um SNS, existem Hospitais e Centros de Saúde, mas, quem detém o poder o que faz? Aumenta o custo dos medicamentos, reduz as comparticipações, abre a porta aos serviços privados pagos a preço de ouro, acessíveis apenas a alguns.
Ainda não há muitos anos as estradas eram escassas, existiam povoações isoladas, inacessíveis no rigor do Inverno, o isolamento da população era uma arma do poder instituído.
Hoje em dia existem auto-estradas, muitas vão de nenhures para sítio nenhum, porque o interior está desertificado, existem grandes cidades em que as pessoas vivem em guetos sem comunicarem, sem estabelecerem relações de vizinhança. Entretanto a ferrovia foi diminuindo, as empresas de transportes reduzindo o número de ligações e as pessoas continuam isoladas.
O que mudou? A forma ou o conteúdo?
Dito isto, será que vale a pena falar na Justiça?
É por isso que afirmo: Sim à Greve!
Vamos expressar a nossa revolta! Vamos dar aquele que pode ser o primeiro passo para que Abril faça de novo sentido.
Não somos nós que temos algo a perder. São eles!

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