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Ninguém sabia de nada


Ninguém sabia de nada!
Quem sabia não falou e, quem falou não podia dizer que sabia, para não comprometer quem sabia e não podia falar.
Entretanto durante anos, animais provenientes do canil municipal, foram utilizados nas aulas práticas de Medicina Veterinária.
Como?
Animais saudáveis eram dados como abatidos, ao abrigo da lei em que o Dr. Flor Ferreira se escuda e enviados para o crematório da Universidade sito na Mitra. Só que durante o trajecto, por artes de feitiçaria os infelizes ressuscitavam e, já que estavam vivos depois de lhes ser declarado o óbito, eram utilizados no apoio às aulas.
Tão simples quanto isto.
Alunas e alunos, professores, clínicos, funcionários, todos ou quase, sabiam. Não podiam adoptar os animais, afinal de contas eles já estavam mortos…
Se os adoptassem revelar-se-ia o verdadeiro convénio, entender-se-ia como as coisas funcionam, como uma mão lava a outra.
Por vezes alguém ia ao canil da Mitra e roubava um “defunto”, inventava-lhe novo nome, registava-o com a cumplicidade de alguém e o pobre do bicho era resgatado à sua triste sina.
Tudo isto sempre foi embrulhado com as costumeiras desculpas: Ao menos aqui são eutanasiados com dignidade (eh eh), não posso fazer nada, nem sequer falar (pois, pois).
Desculpas humanamente aceitáveis como se vê agora, pelo que se está a passar com as duas veterinárias municipais que sempre se bateram pela dignidade dos animais que estão a seu cargo, que por diversas vezes denunciaram em ofícios dirigidos à CME o que se estava a passar.
A carta que foi tornada pública, não foi redigida como carta aberta, foi apesar de tudo tornada pública e ainda bem, digo eu, porque finalmente as pessoas acordaram da sua letargia e começam a reagir. No entanto é bom que as pessoas que sabiam e não tiveram coragem de denunciar, não venham agora armadas em falsos moralistas, acusá-las de falta de ética.
Somos todos responsáveis por este triste quadro de prepotência, de contínuos maus-tratos àqueles que não se podem defender.
Tenho-me batido e continuarei a fazê-lo para que a transparência não seja uma palavra vã, apenas a ocupar espaço numa página do dicionário. É que sem ela a democracia não existe.
A coberto das sombras tudo se pode fazer, tudo se pode moldar. Temos demasiados exemplos disso na nossa história.
Assumamo-nos sem termos de jogar pedra na Geni.  
   

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