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Um mau suspense, uma má fita



Existem inúmeras maneiras de criar suspense, uma delas consiste em revelar logo à partida a identidade dos maus da fita, quais os seus objectivos, quem serão as suas vítimas.
A partir daí tudo se centra na acção, no como e no quando, no fio da meada. Quando bem orquestrada a narrativa, o resultado é sublime.
Várias obras marcaram de forma indelével o imaginário colectivo, a tal ponto, que outros menos dotados caíram na tentação de lhes criar sequelas e como todos sabemos, as sequelas por regra, nunca atingem as alturas da obra mãe.
Dou-vos um exemplo:
A queda do muro de Berlim. Essa fantástica viagem através da luta de duas potências antagónicas, desenvolvida através de uma guerra fria, com vários pólos de acção a desenvolverem-se em espaços distintos, de múltiplas formas, mas sempre a apelarem à atenção do espectador para o palco principal; sublime. Depois, a queda de uma delas, com as suas defesas a ruírem num estonteante efeito dominó e a abdicação final com a imagem simbólica de um muro derruído.
Se tudo se tivesse ficado por aí, com a população festiva a recolher as pedras espalhadas pelo chão, pequenos símbolos da queda de um império, teria sido transcendente, os actores abandonavam a cena, retirariam as máscaras e sairiam junto com o coro a caminho do Sol poente. Mas não, o sucesso foi tal, que se impunha sequência.
Várias tentativas de repetir o êxito foram levadas a cabo sem sucesso, mudaram-se os palcos, retocaram-se os cenários, mas o modelo estava esgotado, não existia depois da vitória final, contraponto, não existia réplica ao poder esmagador do império.
Outras vias se seguiram, a de maior sucesso baseou-se nas contradições do vencedor, do seu papel redentor, de vigilante que abalado por crises existenciais deixou que estas lhe tresmalhassem o rebanho.
Está agora em cena uma sequela desse cariz, fraca, sem chama nem apelo. Na prática está lá tudo, conhecem-se os protagonistas, adivinha-se o desenlace, mas sabe-se quando e destrinça-se o como. Senão vejamos:
Um grupo alargado de países aderiu a uma união monetária, sem política económica que a sustentasse impuseram-se regras e os países aderentes, para as cumprirem, tiveram de abdicar da sua soberania. Nesse grupo os países mais poderosos impuseram-se com naturalidade aos de menores recursos, entretanto sem mecanismos de defesa, anti corpos foram surgindo e contaminando um sistema que se pretendia perfeito, todos ficaram reféns desse ataque e, os mais poderosos impuseram a sua força adiando até ao impossível uma solução radical.
Os mais fracos foram caindo, cedendo à doença, uns após outros; de cada vez que um tombava, os que iam ficando, em lugar de reagir, apontavam a próxima vítima.
É o que se pode dizer um argumento série B. 
O melhor a fazer seria acabar com ele, limitar os custos e partir para outro, mais inovador, tipo as vítimas unirem-se, rasgarem os contratos de usura e encontrarem soluções adequadas e justas, mesmo que para isso tivessem de pôr o encenador a andar…


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