Avançar para o conteúdo principal

carta descartada


Vais deixar-me
alguma coisa
além dos gestos?
Algo além
das palavras ?
Nervos e músculos
e sangue,
somos todos nós!
Ou não é ?
E tu,
esperas o quê ?
Que dúvidas te assaltam
nesta incondicionalidade
de amor?
Esperas que cresça,
para te inventares
em aventuras que me não interessam ...
Não achas que há um espaço
só de nós dois ?
Ou pensas que depende apenas de ti
o crescimento de uma relação ?
Nunca paraste para ver que os teus mitos
não são os meus,meu caro.
De que me serve a história da tua vida,
se tenho de desvelar a hipocrisia das
tuas histórias ...
Não me vejas como projecção dos caminhos
que só tu imaginaste poderem existir.
O meu percurso tem contas
com que tu nunca poderás contar.
Não é o teu espaço que eu vou preencher, é o
meu oh tonto.
Pensas ou pensarás tu meu olhador de umbigo,
que só porque gosto de ti,
me condiciono às migalhas da tua experiência,
ou julgas que não tenho asas,
que preciso de ti para amar,
para cultivar o meu caminho ?
Os passos que eu dou são os meus passos,
e se confio em ti,
não te iludas,
é apenas uma questão de afecto
porque a terra que eu piso,
é aquela que eu quero desbravar,
não é a tua.
Isso oh superpresente é contigo ! ! !
Se estou no teu caminho
é porque sou, porque existo,
não me devaneies nas tuas miragens.
Não me peças aquilo
que eu não posso
sequer imaginar.
Deixa-me ser.
Senão como poderemos
nós ser um ganho ?
Como poderemos dar-nos ?
Inteira-te…

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A historia da Girafa sem Pescoço

Era uma vez uma girafa, muito simpática, que morava numa enorme savana, lá bem no coração de África. Mas a nossa amiga girafa, não era completamente feliz. Tinha uma pequena mágoa sempre a roer-lhe a alma. À primeira vista ninguém conseguiria dizer que ela não era uma girafa como as outras, com o seu enorme pescoço e as manchas castanhas a cobrirem-lhe o corpo amarelado. Como as outras girafas, tinha o seu jeito desengonçado de andar e o hábito de mastigar as folhas que ia tirando das árvores. Quem a visse diria sem qualquer dúvida que ela era uma vulgar girafa, a viver a vida de todas as girafas, mas não era bem assim. Lá na savana, ao cair da noite, todos os animais se juntavam e conversavam, contavam histórias e cantavam juntos canções que iam inventando no momento, mas, a nossa amiga limitava-se a ouvi-los, porque da sua garganta não saía nem um ai. Por ter um pescoço tão grande, ela não conseguia emitir qualquer som, mesmo o mais insignificante e  era essa a causa da sua mel...

Ali onde tudo é possível

Ali onde tudo é possível Um equilíbrio de pé ante pé numa singeleza de voo de borboleta Um córrego pelas linhas do eléctrico a desaguar no Tejo Águas de levada, sonhos, ânsias, brisas Mesmo mesmo mesmo em frente à Sé, por cima das pedras fenícias, gregas, romanas, mouras, pedras com pedacitos da pele de quem por lá andou,  ouvem-se ainda os gritos do povo a chamar a revolta. “Querem matar o Mestre! Querem matar o Mestre” E o sol a girar, a girar, no milagre anual do Fernando de Bolhões E o Cesário, o Verde E tudo, mas mesmo tudo misturado no fado Tudo a ir A misturar-se com as águas do Bugio... com as naus e as caravelas e os veleiros de três mastros a zarparem para os Brasis que em Lisboa já se fala francês... O Rei e a Carlota Joaquina e a resma de piolhos e de cortesãos empoeirados que foram com eles, mais a régia biblioteca que por lá ficou. Imagino os molhos de sertão e de samba e de escravos negros, polidos a óleo de amendoim e a talhe de chic...