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Discurso de Amália Oliveira




Comemoração do Centenário da República
2010 – Évora

Sr. Presidente,
Sras Deputadas e Srs Deputados,
Sras e Srs Presidentes das Juntas de Freguesia do Concelho,
Minhas Senhoras e meus Senhores.

Ao comemorar na cidade de Évora o Centenário da implantação da República estamos a evocar o que de mais marcante sucedeu no Concelho nesses anos de desafio e revolta dessa “Nova Aurora” anunciada e quase nunca concretizada para os mais desfavorecidos.
Na sua origem, o Movimento republicano tinha uma matriz democrática, uma vontade de mudança social e política. No entanto na prática tal não se verificou.
Os últimos anos da monarquia foram governados numa ditadura contra tudo e contra todos, com o beneplácito explícito do Rei e gerida com a mão de ferro de João Franco.
Esta situação permite aos republicanos alargar a sua base social – nomeadamente às classes mais humildes e desfavorecidas – criando assim as condições para a revolta ser bem sucedida.

Mas, o que mudou verdadeiramente para os trabalhadores e assalariados?
Muito pouco.

Évora tinha à época uma taxa de analfabetismo superior a 80% o que não impediu que, por exemplo, a Associação de Classe dos Operários Corticeiros de Évora subscrevesse para divulgação aos seus associados o jornal diário A Greve desde Junho de 1908.
Esta participação do proletariado agrícola eborense no movimento que abertamente contesta a monarquia e a exploração, abranda expectante em Outubro de 1910 para desde logo, se desiludir com o novo regime.

Ainda em Novembro desse mesmo ano a república pública um decreto limitativo do direito à greve que despoleta o reacender das lutas iniciadas na fase final da monarquia: por melhores salários, direitos sindicais e redução da jornada de trabalho.

Quando a recém-criada GNR abate a tiro dois grevistas em Setúbal, a revolta alastra pelos campos do sul e é a partir de Évora – em Janeiro de 1912 - que as manifestações alastram por todo o Alentejo chegando até a haver uma greve geral de solidariedade em Lisboa com os trabalhadores rurais alentejanos.
A repressão republicana sobre o movimento operário é brutal: centenas de prisões e deportações e encerramento da sede dos sindicatos.

Muitas das reivindicações dos trabalhadores de então, mantêm-se nos dias de hoje.
Cito uma acta da reunião de sindicatos realizada em Évora em Maio de 1913 em que o orador Joaquim José Candieira denuncia que: “… quando as empreitadas são dadas em ocasião de crise de trabalho, são sempre com o fim de alargar mais essa crise no tempo em que há falta de trabalho. Foi logo explorado porque a tomou por muito menos do seu valor – para não estar desempregado – não se lembrando que se ia atraiçoar a si e aos seus camaradas e começando a furar os regulamentos dos horários, trabalhando de noite e de dia, sendo tudo isso prejuízos para nós, porque quem devia empregar 10 homens só emprega 6”.

Triste actualidade esta em que passados 100 anos vemos governo e patrões a esbracejar pela diminuição de salários, em que os direitos fundamentais dos trabalhadores continuam em causa. Passados cem anos comprovamos que a mudança de paradigma continua a ser necessária. A economia que temos e que nos conduziu aqui não é a que precisamos. A economia que fecha todos os dias fábricas e empresas, que estimula o consumismo desenfreado e que provoca novos sobre-endividados não é a economia de que precisamos. A economia em que os lucros são sempre privados e as perdas são sempre socializadas. Precisamos de outra economia. Uma economia que permita a uma família de desempregados sobreviver com dignidade. Uma economia de quem partilha e é capaz de multiplicar valor sem exploração e sem subsidio-dependência. Uma economia de criação de emprego, inovação e valorização de empresas e trabalhadores.

Passado cem anos continuamos a ter de recorrer à greve para fazer ouvir a voz dos que se insurgem contra uma politica que protege o grande capital em detrimento dos mais desfavorecidos.

Hoje, ao comemorarmos os 100 anos da Republica, reafirmamo-nos republicanos. Ser republicano hoje é exigir e lutar por uma democracia com direitos sociais. Porque um melhor é possível!


 Amália Oliveira
Deputada pelo BE na Assembleia Municipal de Évora


Comentários

  1. ...um mundo melhor é possível!
    (ai esse corta e cola...)
    LM

    ResponderEliminar
  2. Precisamos de outra Economia.
    e...sem ela não temos rigorosamente mais nada.

    Optimo


    Beijos


    Rui M F

    ResponderEliminar

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