Avançar para o conteúdo principal

A Escola da Minha Filha

A escola da minha filha é pública, por isso é a escola da minha filha.
Se fosse privada, seria apenas a escola em que a minha filha estuda, isto na melhor das hipóteses. Porque a regra é, que sendo privada, ela se limita a ser a escola que a minha filha frequenta.
Mas não, é mesmo a escola da minha filha, dela, e de mais duas centenas de crianças.
É uma escola bonita, no coração da cidade, que também é bonita. Habita o piso térreo de um antigo convento e embora as condições não sejam as melhores, dadas as características do espaço, acaba por ser funcional e acolhedora.
As crianças gostam da sua escola, dos seus professores e das quatro funcionárias e meia que lá trabalham, na verdade, uns dias quatro funcionárias, outros cinco, porque como é sabido, as pessoas ainda não se racham ao meio.
Nós, os pais, ajudamos no que podemos e no que não podemos, quando nos deixam, está bom de ver.
Voluntariamo-nos, ajudamos nos almoços, nas entradas e saídas e, como somos das mais variadas procedências disponibilizamos apoio, incondicional, nas nossas áreas de aptidão, para tornar cada vez melhor a escola que é dos nossos filhos.
Disponibilizamos apenas, porque como não cobramos, ninguém recorre aos nossos serviços, estamos fora do mercado.
Queremos no fundo o melhor para a escola, porque ela sendo pública, é um exemplo a seguir.
Deveria ser pelo menos. Todos os anos falamos com os representantes eleitos do concelho, no poder e na oposição e também com aqueles que umas vezes sim e outras vezes não.
Todos elogiam a nossa atitude, dizem que é pró-activa e civilizada, que somos enquanto pais, um exemplo a seguir. Aceitam as nossas propostas, dizem que estão connosco, fazem juras de amor eterno.
Entretanto o tempo passa e a situação mantém-se, quer dizer, piora; porque não se fazendo nada, é dos livros, tudo piora.
Agora, na nossa escola, temos Actividades de Enriquecimento Curricular dentro do horário lectivo. Educação física antes da hora de almoço, português ou matemática depois das três e meia da tarde e por aí fora. Sendo estas actividades (AEC) de participação voluntária e não havendo funcionárias em número suficiente, quem nelas não participa tem de abandonar durante esse tempo o espaço da escola.
A escola que é nossa neste particular discrimina, não é democrática.
Perguntará quem me estiver a ler: Os pais foram ouvidos? Não! Não foram.
Na escola da minha filha há uma turma sem professor, por lá já passaram uma série de substitutos desde que as aulas começaram, não se vislumbra uma solução.
Perguntará quem me estiver a ler: Já falaram com os burocratas, lá nos gabinetes deles, longe da escola? Já! Já falamos, mas pelos vistos eles não nos ouviram.
Estamos fartos de ser civilizados e pró-activos nos moldes convenientes aos gabinetes do poder.
Isto porque entendemos que a escola, além de ser dos nossos filhos, é acima de tudo para eles.
Resolvemos então deixar de respeitar quem não respeita os nossos filhos e vamos passar à acção.
O Caetano Veloso disse um dia, “sou um cara fraco, desdentado e feio, mas se alguém me desafia e mete Mãe no meio…
Dou pernada a três por quatro e nem me despenteio, que já estou de saco cheio”.
Nós vamos substituir Mãe por Filhos.
Para que conste.  

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Viva a globalização II

WILSON from Arnaud Bouquet on Vimeo . Vou postar todos os dias um video com lágrimas. Um video do absurdo e da estupidez. Um video da insanidade deste mundo que habitamos. Da esquizofrenia global. Da imensa tristeza de habitar tal espaço...

A historia da Girafa sem Pescoço

Era uma vez uma girafa, muito simpática, que morava numa enorme savana, lá bem no coração de África. Mas a nossa amiga girafa, não era completamente feliz. Tinha uma pequena mágoa sempre a roer-lhe a alma. À primeira vista ninguém conseguiria dizer que ela não era uma girafa como as outras, com o seu enorme pescoço e as manchas castanhas a cobrirem-lhe o corpo amarelado. Como as outras girafas, tinha o seu jeito desengonçado de andar e o hábito de mastigar as folhas que ia tirando das árvores. Quem a visse diria sem qualquer dúvida que ela era uma vulgar girafa, a viver a vida de todas as girafas, mas não era bem assim. Lá na savana, ao cair da noite, todos os animais se juntavam e conversavam, contavam histórias e cantavam juntos canções que iam inventando no momento, mas, a nossa amiga limitava-se a ouvi-los, porque da sua garganta não saía nem um ai. Por ter um pescoço tão grande, ela não conseguia emitir qualquer som, mesmo o mais insignificante e  era essa a causa da sua melanco