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O Adamastor

Escrevi isto há um ano, continua pelos vistos o Adamastor a andar por aí.
A semear os mesmos medos.
A ser usado pelos mesmos capitães.

A última semana foi rica em acontecimentos que por si só justificariam comentário, e certamente o farão, mas outros que não eu.
O processo face oculta, que de certeza continuará oculta, pois até agora as faces expostas são as dos títeres que gravitam em torno do poder como as moscas à volta da luz.
O programa do XVIII Governo Constitucional, minoritário iluminado, com tiques absolutistas.
A previsível chegada em força do surto da gripe A, a mostrar a eficácia dos serviços geridos por este desgoverno da República.
O anúncio da regulamentação do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Tudo isto para não falar dos temas recorrentes que qualquer comentador encartado utiliza, quando não é conveniente abordar assuntos mais melindrosos, tais como o futebol, a cupidez das instituições bancárias, que pelos vistos voltam à carga com a taxa de utilização dos cartões de débito… enfim semana recheada esta, com assuntos para todos os gostos e paladares.
Eu no entanto, escolho como trama da minha teia, a visita do gigante Adamastor a Évora.
O Adamastor é imenso e provoca grandes receios, diria mesmo que é a imagem iconográfica do medo.
Não precisa de fazer nada para atemorizar quem o vislumbra, a sua suposta presença é suficiente. Mas é essa a sua arma, estar… apenas estar; é assim que instila o seu veneno.
 Há mesmo quem diga que ele é um gigante simbólico, que se alimenta dos nossos medos.
Eu concordo e até lhe agradeço, porque é graças ao meu Adamastor privativo (todos temos um), que me supero.
Agora pelos vistos, revelou-se o Adamastor cá do burgo, e as pessoas, algumas, por enquanto, começam a perceber que se ele é do burgo, só colectivamente pode ser exorcizado.
Os homens do leme, cansados de arrostar com as intempéries, fartos da navegação à vista dos comandantes, exigem outras formas de navegar, querem ir mais além, mesmo correndo riscos, mesmo tendo noção que o abismo do desconhecido apregoado pelos capitães, os poderá engolir. Mas mesmo assim preferem a coragem do risco a deixarem-se intimidar pela sombra do gigante. Os comandantes ameaçam inseguros do seu poder, com anátemas e penas eternas, tudo enquanto a tripulação observa, expectante.
Outras naus se debatem nas suas próprias tormentas, anda o mar encapelado.
Navegue então a Armada e não cada nau por si e talvez assim se entenda que o pobre do Adamastor não passa de um gigante de papel.   

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