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O candidato Zinho




Cavaco Silva anunciou ontem a sua recandidatura ao cargo que ocupa.
Fê-lo no centro cultural de Belém, símbolo do seu consulado enquanto primeiro-ministro, símbolo também da sua personalidade: junto aos Jerónimos, à Torre de Belém, mas de costas viradas ao Tejo, talvez no mesmo lugar em que o velho do Restelo teceu as suas críticas, fica o legado monumental daquele que foi o primeiro responsável pelo plano inclinado do nosso infortúnio.
Não puderam estar presentes na cerimónia nem Dias Loureiro, nem Oliveira Costa, nem Arlindo de Carvalho, nem tantos outros, que ao longo dos anos deram o seu contributo, para que Cavaco Silva se possa agora assumir como o referencial de honestidade e transparência democrática que apregoa alto e bom som, mesmo para aqueles que já não o podem ouvir.
Mas esteve gente suficiente e comunicação social bastante para ouvir e dar conta do discurso de vinte e cinco minutos, repleto de ideias e contributos e auto-elogios.
Do futuro pouco disse, apenas umas frases de grande originalidade como: “acredito que podemos vencer”, ou ainda “eu acredito” e, a solene promessa de poupança na campanha, de profunda contenção nos gastos, tipo ausência de outdoors e mais uns trocos, esquecendo-se de dizer se vai continuar a assumir o papel de candidato em funções presidenciais, ou se pelo contrário vai apenas ser presidente em deslocações de campanha… isto tudo claro está, sem gastar um cêntimo, já que quem paga é o erário público.
Falou do passado, dos últimos cinco anos, salientando o seu poder mediador: “Sei bem que a minha magistratura de influência produziu resultados positivos. Mas também sei – e esta é a hora de dizê-lo – que podia ter sido mais bem aproveitada pelos diferentes poderes do Estado” e disse mais, “Portugal encontra-se numa situação difícil. Mas há uma interrogação que cada um, com honestidade, deve fazer: em que situação se encontraria o país sem a acção intensa e ponderada, muitas vezes discreta, que desenvolvi ao longo do meu mandato?” Foi de facto discreta a sua acção neste capítulo, tão discreta que ninguém deu por ela. Que me lembre, além das tradicionais mensagens de ano novo, apenas por três vezes Cavaco se dirigiu aos portugueses: aquando do estatuto dos Açores, acerca das inexistentes escutas e, vejam bem! Para criticar e manifestar desacordo em relação a uma lei que acabara de promulgar. Quanto ao resto, não acredito que o Presidente considerando existirem questões de grande relevância política, as não comunicasse ao país, já que nestas três ocasiões, apenas para preservar a democracia e o normal funcionamento das instituições teve a coragem dos predestinados e se dirigiu à nação com a sua proverbial frontalidade.
Cavaco silva é sem dúvida um homem talhado para os grandes momentos já que os antecipa e por isso se interroga: “O que teria acontecido sem os alertas e apelos que lancei na devida altura, sem os compromissos que estimulei, sem os caminhos de futuro que apontei, sem a defesa dos interesses nacionais que tenho incansavelmente promovido junto de entidades estrangeiras?”
Aqui confesso que fiquei um pouco baralhado, já que os alertas que dele ouvi, ouço-os todos os dias na rua, feitos por todos e qualquer um: que a coisa vai mal, que a corrupção grassa (este ele não fez), que gastamos acima das nossas posses etç etç.
Em relação às entidades estrangeiras estou de acordo. Todos nos lembramos da defesa corajosa, da nossa dignidade enquanto estado, que ele fez na sua viagem à República Checa, quando o seu anfitrião nos pretendeu achincalhar.
Em suma; temos homem. Só tenho pena de a maioria dos portugueses não terem ouvido tão sublime discurso. É que à mesma hora jogava a equipa de Mourinho e de Ronaldo e de Ricardo Carvalho e de Pepe e as pessoas esqueceram-se de Cavaco.
Valores mais altos…

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