Bebi a groselha de um trago e a coisa começou a acalmar, a colher, entretanto caída sobre a toalha, estava vazia, Cláudia tinha partido…
“Vá, vem comigo até à rua. Vai fazer-te bem apanhar um pouco de ar” disse João Juizinho numa voz de comando remoto, imperativa.
Saímos.
A dobrar a esquina, gritando compassados, um grupo de cabeças rapadas.
“Hmmm, hmmm, hmmm, por cada esquina dobrada, um vendaval de pedrada” e atiravam pedras de calçada às pessoas, que aplaudiam entusiasmadas.
“Hmmm, hmmm, hmmm, por cada esquina dobrada, um arraial de porrada” e malhavam na assistência, que batia palmas e incitava: “bis, bis, olá, olé, já levei um pontapé”.
“Vamos mas é embora daqui. Não me apetece assistir a este espectáculo… É todas as noites o mesmo, sem duende, sem arte, sem chama, tudo meticuloso, tudo repetido…” disse o quase Desjuizo, enquanto me arrastava rua afora, aos tropeções nas caixas de esmola, dispersas pelos passeios, queixosas, abandonadas pelos deputados da República, que se tinham juntado à festa.
Corremos, voamos, rebolamos na calçada portuguesa, cidade abaixo, até chagarmos às docas, onde o riso desliza, comprimido pelas três margens. Do lado de lá, o Cristo Rei, abria os braços e clamava: “Ai João! Ai João! Isto é que são horas?”
“Tenho de ir. O Cristo hoje tem de ir a uma table dance, e eu tenho de ocupar o lugar dele por umas horitas”
Fiquei sozinho. Ao fundo no cais, vislumbrei a silhueta de Cláudia Cristal, era quase meia noite…
Dei um suspiro, puxei as calças para cima e fui ter com ela num passo decidido.
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