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O abraço da serpente


Manuel Alegre mudou assim tanto das últimas presidenciais para cá?
Que estranhas vicissitudes levaram um homem que congregou a esquerda possível; teria sido ainda mais esquerda se Louçã e Jerónimo tivessem tido a visão estratégica necessária para saírem de cena. Nesse caso talvez hoje não tivéssemos Cavaco como presidente…
Mas que voltas terá dado o mundo, que estranhas convulsões metafísicas, lhe alteraram os genes, para ser hoje o perigoso aliado da ala direita do PS, ele que há quatro anos era para muitos a esperança da esquerda para ocupar Belém?
Será que Alegre não se manifesta contra a política neo-liberal levada a cabo pelo poder económico e posta em prática pela maioria dos governos Europeus?
Talvez a capacidade crítica de Manuel Alegre se tenha evaporado face ao presente envenenado que Sócrates lhe ofereceu e que ele aceitou sem perceber o colete-de-forças que voluntariamente vestiu.
Talvez…
Mas se Sócrates o fez foi por receio de Alegre, por medo de o ver na presidência. Sócrates jogou na proximidade para melhor sabotar a candidatura que não é a sua.
Alegre não! Foi fiel aos seus princípios, Manuel Alegre é militante socialista, como era há cinco anos, não podemos esquecê-lo. Só que entretanto deixou de ser deputado, deixou de ter cargos de relevância no partido. O seu peso na sociedade é o seu passado anti-fascista.
É com essa bandeira que se candidata, não para governar, nem tampouco para tutelar o partido a que pertence. Candidata-se como cidadão, como homem de esquerda que sabe não existir unanimidade (e ainda bem) na política.
Manuel Alegre, candidata-se para exercer uma magistratura.
Com o que se tem deparado, todos sabemos; desde candidatos descartáveis feitos à medida da “vendetta” de Soares a críticas ferozes dos que o apoiaram nas últimas eleições, como se Cavaco não fosse o homem de Sócrates ou vice-versa, e, o pior de tudo: o beijo de judas do seu próprio partido, daqueles em que ele apesar de tudo acreditou e que chegada a hora do apoio assobiam para o ar e fazem-se representar por segundas figuras prestimosas e com apetite pelos quinze minutos de fama nos serviços noticiosos.
Melhor fora que nenhum partido apoiasse Alegre, que ele avançasse sozinho feito D. Quixote.
Foi um erro o meu partido apoiar abertamente Alegre, deveríamos fazer como o Sancho Pança, estar lá para o que desse e viesse e libertá-lo assim do abraço de serpente que Sócrates lhe reservou.

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