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Não passarão


Alguns que prezo, outros que me são próximos, outros ainda que não conhecendo ao vivo me merecem crédito, têm manifestado opinião diversa da minha no que à candidatura de Manuel Alegre diz respeito.
Grande número deles participou activamente nas últimas presidenciais, em prol da eleição do mesmo candidato, que pelos vistos, não é bem o mesmo, ou sendo-o, os enganou há cinco anos atrás. Isso não lhe perdoam! E o desencanto é tanto que se manifesta em profunda mágoa, justificável diga-se em abono da verdade, porque aqueles que foram adversários, duplamente derrotados, por Cavaco e por Alegre, são hoje apoiantes deste último e não só são apoiantes, como pretendem tomar as rédeas da campanha, prevenindo a mais que provável e desejável inflexão à esquerda, que a candidatura assumiria se eles não estivessem presentes para a conter.
Asseguram assim o ganho qualquer que seja o desfecho. Ou vence o seu candidato natural, Cavaco Silva, ou vence o candidato a quem declararam apoio, mais formal do que efectivo, Manuel Alegre.
Sabem que não podem ter Sol na eira e chuva no nabal, mas isso pouco lhes importa, qualquer dos candidatos é fungível, triturável na sua lógica de poder. Na ânsia de conquistar o centro, renegam a esquerda, encolhem os ombros à direita e só não apostam declaradamente no previsível ganhador, porque os seus parceiros de alternância já o fizeram, e, para preservar essa mesma alternância, que os sustenta, têm de criar uma dúvida plausível para reduzir ao mínimo denominador todas as outras alternativas.
Esta é a estratégia.
Combatê-la passa por abafar a sua preponderância no movimento de apoio a Alegre. Não é fácil, não é mesmo consequente para quem alimentou um sonho, embarcar numa sequela de qualidade inferior, sei-o bem, mas o risco que corremos não o fazendo, é alto.
O sonho tenebroso da direita está prestes a concretizar-se: uma maioria, um governo, um presidente. Se não o combatermos, será o pesadelo do nosso desapontamento e mais cedo do que seria de esperar.
Cavaco Silva tem o caminho aplainado e caso vença, como tudo indica, o próximo verão será a confirmação total dos nossos piores receios. Com o PS de pousio nos poleiros empresariais mais o PSD a cortar a eito em tudo o que cheire a Estado Social e se mantenha ainda de pé.
Se Alegre tivesse ganho as últimas eleições as coisas seriam certamente diferentes, não o quiseram nem o BE nem o PC, não o quis a esquerda ao apresentar candidaturas que à partida não tinham possibilidades de vencer.
Agora não é a altura de cometer erros idênticos e permitir que um homem como Cavaco permaneça mais cinco anos no poder com a direita à rédea solta, a entregar tudo o que é lucrativo ao privado, a onerar o público com todos os encargos.
Se queremos ter um Serviço Nacional de Saúde, se queremos ter educação para todos, se pugnamos por uma justiça independente, combater as assimetrias sociais, aumentar a nossa qualidade de vida, não podemos abrir-lhes a porta deixando que elejam Cavaco. Essa será a primeira gota do dilúvio.
É por isso que apoio Alegre, é por isso que faço campanha.
No Pasaran.

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