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O chefe de família

Temos na Presidência da República um bom chefe de família.
Bom marido, pai atento, avô babado.
Um homem que faz tudo pelos seus. Abominando essa coisa rasteira da política e dos políticos. Foi durante anos a fio primeiro-ministro; quando por fim se retirou, cansado que estava dos anos dedicados à coisa pública, seria legítimo pensar que não regressasse, masoquista, às lides que tanto condenara, mas não! Por amor à família regressou às luzes da ribalta, com o seu ar hierático de mestre-escola, com o seu sorriso forçado, a sua vulgaridade intelectual, a sua visão pardacenta do mundo, o seu ressentimento para com tudo o que não entende.
Por amor à família, que queria conhecer o Papa, viver numa casa com vista para a Torre de Belém e ir de férias pagas até aos Açores. Abdicou dos seus valores católicos cometendo uns pecadilhos.
Mentiu!
Quando disse que seria o presidente de todos os portugueses.
Quando afirmou pôr os interesses dos compatriotas acima dos seus.
Quando proclamou a quem o quis ouvir, que a sua bandeira, é a da solidariedade, que o seu desígnio é o bem-estar de todos os cidadãos.
Mentiu por amor à família, a mesma que foi com ele de viagem até à Figueira da Foz, para fazer a rodagem do carro novo e saiu de lá em carro de Estado, com apitos de sirene e polícias às ordens. Os mesmos polícias que limpam a praia de gente incómoda, lá no Algarve, para a família de sua excelência ir a banhos de mar.
Como presidente foi “útil”, insurgiu-se contra todas as lutas de cidadania, contra todas as lutas pela igualdade de direitos; para que ninguém reparasse no seu sepulcral silêncio, sempre que se atentava contra os que menos têm.
Silêncio eloquente, porque ele sabe que enquanto se corta nas pensões e reformas, quando se diminuem salários, quando se aumentam os custos de acesso à justiça, quando se desmantela o serviço nacional de saúde, quando se arrasa o ensino público, quando se mandam diariamente milhares de pessoas para o desemprego, quando se cria um fosso social impossível de transpor, isso é bom para a sua família. Já que a sua família, por ser a sua, está a coberto da desgraça e da miséria que atormenta as famílias dos dois milhões de pobres que desesperam neste atoleiro que ele ajudou a criar.
Para bem da sua família ele vende a alma a Deus e cede o usufruto ao Diabo.
Para bem da sua família ele faz campanha sendo presidente e faz de presidente sendo candidato.
Negoceia e vende o país a retalho a quem oferecer mais, para bem da sua família.
Como homem não me interessa, como não me interessam algumas leguminosas ou a vida sexual dos ratinhos do campo.
Como presidente o que eu quero é que a sua família se foda.

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